quarta-feira, 25 de março de 2009

Alguém me ouve se eu gritar?*


Quem ama

fica cheio de não-saber

não pára de procurar

 

Escrevendo o fulgor do êxtase

percorre o rio do sangue

conhece os horrores da guerra íntima

toda vermelha e crua

fértil em rupturas

incessante nos ataques

 

Não

nenhum rosto materno sobre o nosso debruçado

nos consolaria

se houvesse esse rosto

essa ternura impossível de entender

 

Nada nos pode consolar 

do excessivo peso do amor

que oprime como a noite

cheia de não-saber

como tudo o que é divido

e inventado

 

De facto

não amamos como as flores

totalmente simples na sua entrega

Quando amamos 

deixamos de ser o que somos

trasnfigurados pelo desejo

que mata

destrói

violenta tudo

 

E perscrutando a noite

que a si própria se escava e aplaina

amando

fitamos a intermitência das estrelas

deslumbrados por um brilho extinto

que fere com lentidão sideral

o ermo íntimo do nosso coração

 

Inatingível sempre

e como tal desejado

o verdadeiro amado

 

 

 

III-A

 

 

Quem ama

não pára

percorre

o rio do sangue

a guerra íntima

 

Não

nada nos pode consolar

do peso do amor

do peso do não-saber

do peso do divino

Transfigurados pelo desejo

fitamos as estrelas

deslumbrados

perscrutando

um brilho extinto

que a si próprio

se escava

e aplaina

 

 

 

III-B

 

 

Como cantar

cheios de não-saber

de guerra íntima

de rupturas

 

Nenhum rosto 

nos pode consolar

do que é inventado

 

Não

não amaremos como as flores

totalmente simples

 

O desejo

violenta

tudo

fere

o ermo íntimo do nosso coração

 

 

 

Ana Hatherly (1999), Rilkeana, Lisboa: Assírio & Alvim, 40-43

*Op. ct.: p.29.


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