The Indian upon God
I passed along the water's edge below the humid trees,
My spirit rocked in evening light, the rushes round my knees,
My spirit rocked in sleep and sighs; and saw the moor-fowl pace
All dripping on a grassy slope, and saw them cease to chase
Each other round in circles, and heard the eldest speak:
Who holds the world between His bill and made us strong or weak
Is an undying moorfowl, and He lives beyond the sky.
The rains are from His dripping wing, the moonbeams from His eye.
I passed a little further on and heard a lotus talk:
Who made the world and ruleth it, He hangeth on a stalk,
For I am in His image made, and all this tinkling tide
Is but a sliding drop of rain between His petals wide.
A little way within the gloom a roebuck raised his eyes
Brimful of starlight, and he said: The Stamper of the skies,
He is a gentle roebuck; for how else, I pray, could He
Conceive a thing so sad and soft, a gentle thing like me?
I passed a little further on and heard a peacock say:
Who made the grass and made the worms and made my feathers gay,
He is a monstrous peacock, and He waveth all the night
His languid tail above us, lit with myriad spots of light.
O Indiano acerca de Deus
Vagueei pela beira da água, sob as árvores húmidas,
O meu espírito embalado pelo crepúsculo, os juncos envolvendo-me os joelhos,
O meu espírito embalado por suspiros e pelo sono; e vi as galinholas
Numa encosta verdejante, escorrendo água, vi-as deixar de se perseguirem
Em círculos e escutei a mais velha que dizia:
Quem tem o mundo preso no Seu bico e nos fez fortes ou fracas
É galinhola imortal que vive para além do céu.
As chuvas caem das Suas asas gotejantes, os raios de luar dos Seus olhos.
Avancei um pouco mais e escutei a flor de lótus que dizia:
Quem fez o mundo e o governa pende de um caule,
Pois eu sou feita à Sua imagem, e todo este murmurar de água
É uma gota de chuva que desliza por entre as Suas pétalas.
Mais além, rodeado de trevas, um cabrito-montês ergueu os olhos
Repleto da luz das estrelas e disse: o Desenhador dos Céus
É um dócil cabrito-montês; pois, um ser tão dócil como eu?
Avancei um pouco mais e escutei um pavão que dizia:
Quem fez a erva e os vermes e as minhas penas garridas
É um enorme pavão, e sobre nós Ele acena toda a noite
A Sua lânguida cauda, iluminada por miríades de pontos luminosos.
W. B. Yeats, Os Pássaros Brancos e Outros Poemas, Relógio d'Água, 1993. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães e Laureano Silveira.