A gente anda pelo mundo fora
À procura da identidade de nós próprios.
Em cada amor,
Cada um procura o seu amor,
O eco e o reflexo de si próprio,
A harmonia transcendente do seu ser.
Em cada amor perdido
Cada um encontra a solidão
Cósmica de existir só por si.
E tudo é desencanto
E espanto e dôr:
Em cada amor se encontra apenas,
Fragmentada,
A esperança eterna do supremo amor.
*
Aquele gesto que apanha a florzinha ignorada
E a coloca sobre o peito;
Aquela voz que diz:
Já escolhi
O amor da minha vida;
Um sol que é promessa de morte e de terror,
O sorriso que se esqueceu de partir daquele rosto...
O acaso é lógica suprema.
*
Todos sairam,
Todos se vão embora.
E eu?
Cheguei ou não parti?
Que estranha a minha solidão!
Não sei se estou só
Por estar sòzinha
Ou se estou sòzinha
Por ser só.
*
De repente criou-se a distância
(Que aliás já existia).
Não se pode comparar tudo com nada?
Já todos sabem:
Abre-se a mão
E o que julgávamos lá estar dentro,
Nunca foi.
E também não é surpresa:
Viver é só substituir esperança por esperança.
Ana Hatherly (1958), Um Ritmo Perdido, Lisboa: Edição da autora.