Para o Manuel A. Domingos, que teve a boa lembrança de me escrever. E para quem depois de uma breve troca de e-mails, eu já não sabia o que acrescentar.
Isto é e não é um poema, como sabes.
O tempo anda estranho, é verdade,
mas só para quem o sente.
Por exemplo: há pouco
chovia e difícil era não chorar,
o que até poderia ter feito sem receio,
visto ser mulher e não ser
bonita.
Não sou daqui. Não há o que me pertença.
Lá em casa a louça costuma estar mais lavada
e a luz, quando há luz, é mais limpa.
Ainda hei de regressar para de onde vim,
uma ausência de sítio ainda antes de qualquer casa
onde só o silêncio e principalmente
nenhuma porta de ferro
a ressoar sob a minha cabeceira.
Enfim: há dias em que durmo mal e acordo pior,
doem-me os olhos e a gente, oh!, a gente.
Por aqui andamos todos, como se vê,
tenho frio e seria tão fácil sermos felizes.