d
Se paras muito cedo
escutas um fio de madrugada
serpenteando no gorgear do melro
e um galo traz de um animal esquivo
a lira eterna da sua antiguidade
argumentam os dois sobre coisas agitadas
que ao princípio do dia te acordam
neste tempo de pensar que existes
porque és a energia
que faz de ti um espanto
e um prodígio
e todos contigo seguem
sem saber o que fazer dos olhos
esquina a esquina se propagam ecos
de estridência falaz:
ei-los que sempre vieram
irresgatáveis
desprevenidos
nem sabem sequer onde mora
a culpa de não serem outra gente
outro corpo outra certeza
se baterem às portas
talvez quem de dentro se esquece
não responda
por isso ficas sempre balançando os pulsos
como quem espera.
Irene Lucília Andrade, 2008, «Uma Nesga de Mundo», Ilha 5, 7 Dias 6 Noites.