sábado, 11 de outubro de 2008
Fala do bicho do mato #A tua voz em volta do pescoço
Publicado originalmente em 1930, A Voz Humana, de Jean Cocteau é um monólogo de uma mulher desesperada devido ao término de uma relação amorosa. Durante toda a peça, a mulher fala, ao telefone, com aquele que a terá abandonado. Não havia telemóveis. Havia, isso sim, telefones e telefonistas e linhas cruzadas. E é este o elemento que confere um maior dramatismo ao texto: o telefone enquanto meio de ligação a um amado distante, mas, que ao mesmo tempo, pelas suas características técnicas, está continuamente sujeito à iminência da interrupção.
O que fazer, o que sentir quando o meio que nos liga a quem mais queremos – ainda que apenas tecnologicamente, visto que deixou de haver correspondência no desejo – é tão precário? “Está, está lá, está?..........Não, minha senhora, são as linhas cruzadas, desligue; por favor desligue.................................Está?.......Tenho prioridade, porque sou assinante........ (...) ..........Deixe-me em paz...............Claro que não sou o Dr. Schmit.........”
No entanto, qualquer tentativa de ligação, de aproximação a alguém que não nos quer por perto só poderá ser precária. Com telefone, ou sem telefone, será sempre “ao longe, muito ao longe” que se ouvirá o outro, ainda que, por vezes, apenas por vezes, seja “como se falasses aqui no quarto”. Talvez porque a vontade de o ouvir seja tanta tal ilusão possa ser criada. A mesma vontade que não tem pudor de pedir: “Se desligarem, pede logo outro chamada”, porque aquele meio de comunicação é falível, mas é ainda o que, embora artificialmente, a liga ao amado, o que lhe traz a sua voz.
Trata-se de uma mulher ”de cabelos brancos e uma infinidade de rugazinhas”, que lembra que ”outrora, as pessoas nas nossas circunstâncias marcavam um encontro e podiam então perder a cabeça, esquecer as promessas, arriscar um beijo ou um abraço", outrora quando ainda não havia telefone, dois ex-amantes que quisessem cordialmente saber um do outro, teriam de se encontrar presencialmente e, então, o campo dos desenlaces possíveis poderia incluir um olhar, um gesto, um toque que devolvesse à mulher o amado perdido. Não assim. ”Entre nós, separados por este telefone, o que acabou, acabou”. Não há recomeços. Com aquele telefone que a une e a separa do amado, a mulher pode chorar sem que ele o veja, mentir-lhe, dizer-lhe que não encontra as suas luvas “crispin” enquanto as beija.
Esse telefone que a mulher quer tanto quanto não quer. Esse telefone que a afasta irremediavelmente do amado, sendo, todavia, a única forma de com ele comunicar. ”Este fio é a única coisa que me liga ainda à nossa vida”.
E:
”Claro que é preciso desligar, mas custa muito.......................................Sim. Ter a ilusão de estarmos abraçados um ao outro e de repente interpor caves, esgotos, uma cidade inteira entre nós........................................Lembras-te da Ivone, que não podia conceber como a voz passava através dum fio tão torcido? Pois tenho o fio em volta do pescoço. A tua voz em volta do pescoço........................................”
Que importância tem uma voz? Que importância tem aquela voz, que é, simultaneamente, elemento de união e distanciamento porque substitui a presença?
”Meu amor.........................................................Meu amor perdido...........................................................” Tenho a tua voz em volta do pescoço. Que acontecerá quando pousares o auscultador? Será o afrouxar do laço que me permitirá respirar melhor ou, pelo contrário, o trejeito final do estrangulamento?
Jean Cocteau, A Voz Humana, Assírio & Alvim, 1999. Tradução de Carlos de Oliveira. Nota introdutória de Gastão Cruz.
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