Corvos
O Outono estás prestes a chegar e vai salvar os pássaros,
em casas sombrias irmão e irmã juntam
os grãos para a refeição do Inverno.
Na aldeia enegrecida o porco está acorrentado.
Nos campos vão morrendo os corvos da dor.
Nós bebemos a cerveja do desespero
e juntamos as mãos perante o desdém do pai.
A terra toma o gosto dos cordões da carne.
O fumo sobe por cima dos casais
e atrás de si deixa o temor dos camponeses bêbados.
Rouqueja a cegonha do poço em frente da janela apodrecida...
Mas eu não tenho medo.
Thomas Bernhard, Na Terra e no Inferno, Assírio & Alvim, 2000. Tradução e introdução de José A. Palma Caetano.