Sheng Xing (China, 1978)





não suporto mais esperar pelo verão


é uma pena, de facto
fazeres-me apaixonar por ti no inverno
quando te despi as tuas roupas
quando te vi no gélido ar
os teus braços em torno do corpo nu e tremente
quanto vi a tua face coberta de lágrimas
querida
tu és tão bonita
perdoa a minha grosseria, a minha impertinência
eu só queria ver como é que ficavas de saia
não suporto mais esperar pelo verão





onde quer que exista uma loja a vender carris


onde quer que exista uma loja a vender carris
há um comboio a dirigir-se para lá
e onde quer que o comboio vá
há pessoas a atravessarem-se na linha e a cometer suicídio
presentemente há alguns locais onde ainda ninguém se matou
mas espera e verás
um dia alguém o fará

onde quer que exista uma loja a vender carris
não podemos impedir as pessoas de quererem atravessar-se na linha e suicidar-se
e uma vez que alguém se deite à linha
não podemos deter o estrépito dos comboios





médico de peixes


um por um, eles morrem
e tudo o que eu posso é retirar da água os seus pequenos corpos
agora, o meu aquário está vazio:
não tenho escolha a não ser sentar-me aturdido perto do aquário

todos estes anos eu apreciei os movimentos dos peixes dourados
mas nada aprendi das suas doenças
todos estes anos nunca me deparei com um médico de peixes
um bondoso peixe com uma enorme cabeça
e um estetoscópio em torno do pescoço assinalado com uma cruz vermelha
mas é apenas no oceano longínquo que ele trata dos feridos e salva os moribundos
ele não pode vir ao meu aquário
a doença de que eles morrem é incurável



Versões de Rute Mota a partir daqui.