“Sentam-se no passeio em frente da porta, Daniel observa os parcos abraços dos que se despedem, os apertos de mão de cabeça voltada, os beijinhos projectados no ar – o que se passa com esta gente? – pergunta Marga – não percebem que os outros se vão embora? que vão deixar de os ver sabe-se lá quanto tempo? – e Daniel responde: Já não há verdadeiras despedidas.”
Gomes, Luísa Costa (1984), «A Balança invade o reino secreto de Capricórnio», in O Gémeo Diferente, Difel, Lisboa.
Até logo, até amanhã, até para a semana, até breve, até para o ano.
Há este avião que me leva, que te leva para o outro lado do mar. Há os meus pés, os teus pés, que me levam, que te levam, para onde me levarem, te levarem. Ao fim e ao cabo, podemos ter quilómetros entre nós e partilharmos as vozes todos os dias. Estamos todos tão contactáveis e tão depressa estamos lá como cá. Ao cabo e ao fim, podemos habitar a mesma cidade e tocarmo-nos nunca mais. Podes ligar-me, que eu posso não atender. Tão contactáveis e tão pouco comunicantes.
(Que farei, que farás, com o que tinha para ti, o que tinhas para mim, e não te dei, não me deste?)
Até quando nos encontrarmos de novo. Até que a morte nos separe. Até já.