Engano é pensar que Plácido procura quem lhe dê a qualidade de vida que exige. A sua qualidade de vida não é exigência feita a quem quer que seja, nem depende de idas ao veterinário ou comida desempacotada a horas certas. Muito menos de afectos ou mordomias a dissimular moeda de troca. Dona - ou dono, pois não é de género que se trata - é significado que não reconhece. Intrínseca é a condição de ser solitário. Não se lhe peça fidelidades regidas por uma cronologia que lhe é alheia, que também ele nada pede. Dá-se e recebe-se na medida da nossa disponibilidade. Uma pouca de água, uns biscoitos a meio da tarde. Mas estes quintais mostram-se férteis para a satisfação de apetites mais vorazes e nem de mão regular que o alimente Plácido aparenta verdadeira necessidade. Ou apenas um pouco de companhia na sombra da escada, nem tanto pela companhia como pelo momento que é agradável. A qualidade de vida é encanto partilhado de igual para igual.
Gosto em ver-te, Plácido. Até amanhã na coincidência dos nossos calendários.