«-- Exceptuando o meu -- perguntou ela --, já assististe a grandes amores?
-- Em terra -- respondeu Laurent, passados alguns momentos -- assisti a alguns. É uma coisa muito triste de se ver.
-- Referes-te -- perguntou ela -- a esses amores sobre os quais nada impende? Que nada, aparentemente, impede de durarem para sempre?
-- Instalados na eternidade -- completou Laurent --, é isso.
-- A eternidade é muito -- observei eu.
-- Não é verdade que nada nos impressiona mais do que um grande amor? Que nada, em suma, se lhe assemelha?
-- Os pequenos amores do dia-a-dia -- observei eu -- têm outras vantagens.
-- E esses -- concordou Laurent, rindo -- não são tão tristes de ver.
-- A esses basta-lhes a vida -- comentei eu --, não saberiam que fazer da eternidade.
-- Digam-me cá -- pediu ela --, qual é o sinal anunciador do fim de um grande amor?
-- O facto de nada o impedir, aparentemente, de durar para sempre, não é? -- disse eu.»
Marguerite Duras (2003 [1952]), O Marinheiro de Gibraltar (Tradução de Isabel de St. Aubyn), Lisboa: Dom Quixote, p.: 251.