afagado pela respiração das nuvens
eu rasgava o céu e o centro da terra
perdido à procura do amor
voava por dezembro com sol
entre rios guiados por índios
e terras plantadas que a todos pertencem
e sabia que o fim
não é a próxima paragem
é sempre depois da próxima
até o clamor selvagem
não ter mais farol por onde se guie
mal surja o devorador de palavras
o relâmpago da aurora dispersará
o delírio do homem que julga ser
*
se fossemos apenas pássaros
prolongar-se-ia a nossa morte
pelo amor que o mar nos torna
errantes, em assombro permanente
lúcidos
voaríamos pela chama dentro
pela orla do tempo
que parado nos aproximaria
não sonhes
que o olhar perturba o percurso do mar
*
os olhos estão virados para baixo
a escutar o ar
circulam no corpo algas queimadas pelo sol
as varandas do rio estão suspensas
um pássaro
leva no bico uma corrente
distante
o comboio não pára no destino
infiltra-se por entre a tempestade
os olhos abrem-se lentamente com o frio
M. Parissy, 1999, Dublin e Tu, Universitária Poesia, Lisboa.